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31/12/2010

Lenda da Noite de S. Silvestre

Segundo diz a lenda, existia, há muitos anos, no oceano Atlântico uma ilha fabulosa, a Atlântida. Arrogante, o rei da ilha ousou desafiar os céus. Deus respondeu-lhe que nada poderia contra o poder divino. Mas o teimoso rei voltou a desafiá-lo e decidiu conquistar Atenas. Durante a batalha, o rei da Atlântida ouviu Deus dizer-lhe que a vitória seria de Atenas para castigar a sua arrogância. À derrota, seguiram-se terríveis tempestades, terramotos e inundações que engoliram a bela Atlântida para todo o sempre.
Passadas centenas de anos, a Virgem Maria debruçava-se dos céus sobre o oceano quando São Silvestre lhe veio falar. Aquela era a última noite do ano e São Silvestre achava que deveria significar algo de diferente para os homens. Deveria marcar uma fronteira entre o passado e o futuro, dando-lhes a possibilidade de se arrependerem dos seus erros e de terem esperança numa vida melhor. Nossa Senhora concordou e revelou-lhe o motivo por que estava a observar o mar com uma certa tristeza. Lembrava-se da bela Atlântida afundada por Deus por causa dos pecados dos seus habitantes. Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair lágrimas de tristeza e misericórdia porque, apesar do castigo, a humanidade não se tinha emendado. São Silvestre reparou que não eram apenas lágrimas que caíam dos olhos da Senhora, mas também pérolas autênticas. Uma delas, ao cair no local onde a Atlântida tinha existido, originou a ilha da Madeira. Esta ficou conhecida como a Pérola do Atlântico.




28/12/2010

Queda para o negócio



Um rato, que andava a viajar, chegou, a certa altura, à margem de um rio profundo. Nem ponte nem barco.
Uma rã, que andava por ali, ofereceu-se para levá-lo até ao outro lado. Como paga pelo serviço pedia vinte mosquitos.
- Mosquitos não tenho, que não é moeda do meu uso - disse-lhe o rato. - Mas se aceita o câmbio, disponho de notas de mais valor, na minha bagagem. Quer receber duas fatias de queijo pelo trabalho?
- Três - respondeu a rã, que tinha queda para o negócio.
O rato acedeu. Também não lhe restava outra alternativa...
A rã pôs-se a nadar, com o rato encavalitado no dorso.
Faltavam talvez dois terços da viagem, quando a rã disse:
- Afinal você pesa mais do que eu supunha. Levo quatro fatias pelo transporte.
O rato, que não sabia nadar, olhou para a água, em corrente assustadora, e disse que sim. Nem tinha outro remédio.
Mais adiante, voltou a rã:
- Estive a pensar que quatro fatias não chegam. Ficamos em cinco. O que é que acha?
O rato atemorizado achou bem. Se achasse mal, o que o esperaria?
Estavam a chegar ao sítio mais fundo do rio.
- Amigo rato, vamos concluir o negócio. Eu por doze fatias levo-o à outra margem. Combinado?
- Combinado... - disse o rato, a tremer de medo.
E assim continuaram, até terem a margem à vista. Mais calmo, o rato falou assim:
- Eu não sou de regatear, mas sobre aquela nossa conversa de há bocado, compete-me dizer que acho o seu preço muito pesado.
- Mau! - sobressaltou-se a rã. - Então em que ficamos?
Estava a margem à largura de um salto. Foi o salto que o rato deu, salpicando-se todo. Mas estava em terra firme.
- Então, afinal, em que ficamos? - perguntou a rã, a boiar de bruços.
- Eu fico aqui, agora você vá para onde lhe apetecer, que não quero ser eu a mandá-la - respondeu o rato.
E desapareceu, pelo meio de uns caniços.
- Já me tinha constado que se não deve concluir negócios com ratos - disse de si para si a rã. - São muito pouco honestos...
E o que diria o rato, se pudéssemos ouvi-lo?

António Torrado



23/12/2010

A filhó dourada



A história que vou contar chama-se “A Filhó Dourada”.
Douradas, muito douradinhas são elas todas, empilhadas na travessa, como um castelo por conquistar.
As últimas são as melhores. Têm mais açúcar, desfazem-se mal lhes tocamos… A gente pega delicadamente numa das que sobraram, dá-lhe um impulso que a ponha a deslizar na travessa, para ensopar bem e, num gesto rápido, sem pingar a toalha, mete-a na boca. O estalar dela, de encontro aos nossos dentes, é música com açúcar.
Naquela ceia de Natal, todos tinham comido filhós.
— Estão uma delícia — comentavam.
E, porque estavam uma delícia, não tinha sobrado senão uma, no fundo da travessa. Era uma ilha minúscula e redondinha, rodeada por um mar de açúcar. Todos os olhos fitavam a filhó, que estalava em reflexos de oiro. Uma tentação.
À roda da mesa, diziam para o avô:
— Só ficou uma filhó. Porque é que a não come?
O avô, então, virava-se para a avó e segredava-lhe:
— Come tu, anda lá.
A avó não queria.
— Comam vocês — dizia ela, apontando para a filhó e para os filhos.
— Eu já comi muitas — desculpava-se um.
— Também tenho a minha conta — dizia outro.
— Nem mais um bocadinho — declarava um terceiro.
Parecia que nenhum queria tomar a responsabilidade de comer a filhó. No entanto, ela lá estava muito dourada, a recortar-se no meio da calda de açúcar. Apetecia mesmo ver e… comer.
Mas, à volta da mesa, não se decidiam. E a filhó, a última filhó, andava de boca em boca, sem se fixar na boca de ninguém. De oferta em oferta, chegou a vez da tia Luísa propor:
— Os pequenos que comam. Sempre quero ver qual dos meus sobrinhos chega primeiro à filhó.
Os meninos não se precipitaram sobre a filhó apetitosa, como seria de esperar. Cada um ficou à espera do primo ao lado, e o primo ao lado do outro primo ao lado… Fosse por acanhamento ou fosse por que fosse…
— Afinal ninguém a come — observaram do outro extremo da mesa. — Esta filhó deve ser mágica.
Olharam uns para os outros e sorriram.
A ceia estava no fim. Os meninos tinham sono. O avô cabeceava. Começou a ouvir-se o arrastar das cadeiras. Era a debandada.
— Amanhã se arruma a casa — disse a tia Luísa, e apagou a luz da sala de jantar.
Quando todos já se tinham ido embora, a filhó, no lusco-fusco, ao meio da mesa, começou a brilhar. Intensamente. Acreditem ou não, como se tivesse luz dentro. Como um pequeno sol ou um bocadinho de oiro, a desfazer-se em açúcar.

António Torrado

22/12/2010

A Árvore de Natal



Desde o século XVI que se tornou costume, na Alemanha, decorar, pelo Natal, os pinheiros. Ao conservar, em pleno Inverno, a sua folhagem verde, o pinheiro é um símbolo muito antigo do poder divino da vida que até mesmo o frio invernal não consegue vencer. A Árvore de Natal tem pois a sua origem numa antiga tradição germânica que consistia em pendurar nas casas, durante as “noites selvagens”, alguns ramos de verdura que afastavam os maus espíritos. Estes eram assim conjurados de duas formas: a árvore, sempre verde, transmitia a sua vitalidade aos homens e aos animais, e a sua luz, iluminando as trevas da noite universal, expulsava os demónios. Na tradição cristã, esta árvore sempre verdejante e, ainda por cima, iluminada, convida a que Cristo entre nas casas e delas elimine todos os espíritos do medo, da hostilidade e da inveja. Em pleno coração do Inverno escuro e frio, a árvore traz luz e calor ao nosso mundo.

Os cristãos viram no pinheiro de Natal a árvore do paraíso na qual se podem colher os “frutos da vida”. Estes são representados pelas maçãs e pelas nozes que, desde sempre, se penduraram nos ramos da árvore, ou então por bolas de vidro, imagens do paraíso na sua totalidade intacta. De acordo com uma lenda antiga, Adão, doente e moribundo, terá mandado ao paraíso o seu filho Seth para que lhe trouxesse um pouco da seiva da Árvore da Vida, com o fim de diminuir os seus sofrimentos. O Arcanjo Miguel teria então dito a Adão que, somente 5.500 anos depois é que o Filho de Deus viria à terra, para o levar até à Árvore da Vida, Árvore da Clemência e da Graça. No entanto, Miguel teria dado a Seth, no seguimento desta promessa solene, um rebento da árvore que deveria ser plantada na terra. É por isso que a Árvore de Natal é um rebento da Árvore da Graça até à qual Deus nos conduz pelo nascimento do seu Filho, para que a sua seiva apazigue os nossos sofrimentos.

A árvore é, para todos os povos, fonte de vida e símbolo importante de fertilidade. Na Antiguidade, cada árvore era atributo de um deus: o carvalho, o de Júpiter, o loureiro, o de Apolo, a murta, o de Vénus. O Antigo Testamento fala das Árvores do Jardim do Éden: a “Árvore da Vida”, e a “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. O cristianismo pressentiu na Cruz a actualização da Árvore da Vida: a cruz é a árvore que traz até nós a verdadeira vida, a árvore que nunca seca, já que nela o próprio Cristo foi imolado. A árvore estabelece assim uma ligação entre a terra e o céu. Enraíza-se nas profundezas da Terra-Mãe, da qual tira a sua força; e, ao mesmo tempo, dirige-se para o céu e nele expande a sua copa. A árvore é pois a imagem do homem tal como este deveria ser: enraizado no solo e, no entanto, de pé, como um rei ostentando a coroa. E porque nos dá a sua sombra, a árvore é também um símbolo maternal. Pelo contrário, o seu tronco é visto muitas vezes como um símbolo fálico. É deste modo que o vegetal reúne os traços de virilidade e da feminilidade; não une apenas o céu à terra, mas ainda o homem à mulher.

A árvore de Natal acentua pois alguns dos aspectos relativos ao simbolismo geral da árvore. Em primeiro lugar, há a ligação entre o céu e a terra: no Natal, Deus faz desaparecer a fronteira entre os dois; é a partir da terra que podemos aceder ao céu. Em seguida, a imagem da Árvore de Natal foi certamente influenciada pela imagem da árvore que se abate mas que nasce de novo. Daí a promessa de Isaías relativa ao Advento: “Sairá um rebento da árvore de Jessé, um rebento surgirá das suas raízes” (Isaías, 11,1). É precisamente no momento em que falhamos, no momento em que somos amputados: quando o caminho nos conduz a um beco sem saída que, através do nascimento de Cristo, desponta em nós a certeza de uma vida nova, mais autêntica e bela do que a que conhecemos até então. A árvore de Natal é assim imagem de uma vida que, graças ao nascimento de Jesus, em nós desponta triunfante, vida essa que nenhum frio pode destruir; é também um sinal de que a guerra dos sexos está ultrapassada. Quando Deus vem ao mundo, deixa de fazer sentido a oposição entre o homem e a mulher, tornam-se os dois (todos nos tornamos) um com a sua natureza divina.

Eis pois a promessa que nos chega com a árvore de Natal, árvore continuamente verdejante, decorada com bolas, com velas e fitas cintilantes. Os ramos do pinheiro exalam um perfume único. Sempre que o respiro, sinto reviver em mim os sentimentos que eram os meus na infância. Tenho então a sensação de que a nossa casa, o meu quarto, foram transformados graças ao nascimento de Cristo, sinto que Deus se aproximou de mim e veio habitar o meu quarto, a minha casa, e que a Sua presença tão próxima difunde como que um perfume de ternura, de amor, ao mesmo tempo que uma sensação de segurança, idêntica à que sentimos quando estamos em casa. O que emana deste perfume de Natal não é a nostalgia mas antes a intuição de que o mistério, de que o próprio Deus, se encontra entre nós.

E é porque o mistério está entre nós que nos podemos sentir em casa, na nossa própria casa. Em casa, com o pinheiro, entra também a realidade da floresta, a própria realidade da natureza e de toda a criação; é então que desaparece a ruptura entre a natureza e a civilização, é então que temos a sensação de que, até mesmo no interior das nossas casas, partilhamos a força que emana da Terra Mãe. Ao tornar-se homem, Deus santificou toda a criação, e é enquanto seres humanos que nós participamos nessa criação santificada.

Que efeito produz, em ti que me lês, este perfume do pinheiro de Natal? Em tua casa, contempla a árvore de Natal e vê que imagens despertam em ti. A árvore decorada traduz um aspecto importante da Encarnação de Deus em Cristo. É toda a natureza que se transforma quando o próprio Deus desce sobre ela. O que se transforma não é apenas a tua vida passada, liberta dos seus males, nem a vitalidade da tua natureza animal; é também toda a tua componente vegetativa. Cristo quer penetrar no interior do teu corpo, penetrar no teu sistema nervoso vegetativo, para tudo poder transformar, para tudo curar. E quer encher-te com o perfume da divindade, para que possas, literalmente, sentir-te tu mesmo e para que te sintas bem na tua pele.


Anselm Grün, Curta Meditação sobre as Festas de Natal

20/12/2010

A Besta-Fera



A Besta-fera é uma versão brasileira do centauro, e é muitas vezes empregada em sentido figurado para se referir a alguém que é extremamente irritado. Segundo a lenda, acredita-se que ele é o próprio Diabo, que sai do Inferno em noites de lua cheia.

A Besta-fera tem o corpo de cavalo e o torso humano. Ele corre pelas aldeias, até encontrar uma tumba, na qual desaparece. O som de seus cascos é suficiente para aterrorizar as pessoas. Uma matilha de cães o segue; a Besta os chicoteia, e também a outros animais que encontra pelo caminho. Segundo a lenda, embora terrível, este homem-cavalo não é tão perigoso para as pessoas. A tradição diz que quando uma pessoa vê o seu rosto, ela enlouquece por vários dias, mas se recupera depois.

Lenda do Brasil


19/12/2010

No rasto da estrela



Três reis, vindo cada qual do seu extremo do mundo, encontraram-se num cruzamento de três caminhos. Uma grande estrela, nova no céu, tinha-os atraído para o mesmo destino.
Juntaram as respectivas caravanas de camelos e cavalos e prosseguiram a viagem juntos. Sempre no rasto da estrela, foram dar a uma cidade e a um palácio, onde vivia um rei, chamado Herodes.
- Vimos uma estrela que anuncia o nascimento do rei dos Judeus - disseram os três reis.
Herodes, ao ouvir tal notícia, assustou-se. Rei dos Judeus era ele e temia que lhe roubassem o trono. Mas fingiu-se interessado e pediu aos três reis viajantes que fossem e procurassem saber mais acerca desse acontecimento espantoso, porque também ele queria adorar o Menino, fadado pelo Céu. Era mentira. Percebia-se pelos olhos furibundos de Herodes que era tudo mentira.
Os três reis sábios deixaram a cidade e continuaram por caminhos humildes atrás da estrela anunciadora, até que foram encontrar, em Belém da Judeia, o Menino. Sobre o telhado da casa onde vivia o Menino a estrela parou.
Os três reis, que se chamavam Gaspar, Melchior e Baltasar, ajoelharam-se em adoração e abriram os cofres das oferendas. Ouro, incenso e mirra era o que tinham para dar.
Já não voltaram por Jerusalém, porque tinham sido avisados em sonhos para regressarem às suas terras por outros caminhos.
Herodes esperou-os, em vão. Furioso e cheio de medo que, mais tarde, pudesse ser destronado, mandou matar todos os meninos de Belém da Judeia. O seu futuro rival - julgava ele - também estaria entre esses inocentes.
E Herodes ria da sua malvadez.
Mas o Menino, que a estrela iluminara, salvou-se. E Herodes perdeu.


A serpente e os pássaros

Não havia mais tantos pássaros no bando quanto anteriormente. Cada dia um deles desaparecia misteriosamente, sem ninguém notar como. O líder do bando não conseguia encontrar explicação alguma.
Certa manhã, em vez de voar na frente, colocou-se em último lugar, a fim de poder vigiar seus companheiros.
Voaram, como sempre, em direção a uma floresta distante. Ao passarem por cima de um colina o líder notou que o ordenado bando separou-se, como se atingido por um forte vento. A maioria dos pássaros tornou a formar uma fila ordenada. Porém dois dos mais jovens prosseguiram numa rota diferente, como se atraídos por alguma força invisível.
E subitamente o líder viu a serpente. Era muito comprida e tinha diversos anéis.
Todas as manhãs ficava escondida na grama, à espera da passagem do bando. Então abria a boca e aspirava com força, sugando os pássaros para dentro de sua boca.
Tendo descoberto o perigo, o sábio líder, desse dia em diante, conduziu o bando por outra rota e a serpente nunca mais apanhou nenhum deles.



18/12/2010

Os pardais ensinam



Contava o Joca à mãe:
- Hoje, na piscina, vi uma borboleta a voar por cima da água.
- Mas onde está a admiração? - dizia-lhe a mãe.
- É que há um cartaz, à entrada da piscina, que proíbe a entrada a animais. Nunca leste? - perguntava o Joca.
A mãe já tinha lido, mas como não tencionava levar nenhum cão nem nenhum gato para a piscina, não ligara importância.
- Então a borboleta não é animal? - quis saber o Joca. - E os pardais também não são animais? Sim, porque eu vi, há dias, três pardais ao pé do self-service da piscina. Ninguém os mandou embora...
Havia que explicar ao Joca que os pardais, não sabendo ler, tinham de ser desculpados do atrevimento. Pouco mais ou menos, foi isto o que a mãe disse ao filho.
Mas a senhora estava enganada, muito enganada. Não só os pardais sabiam do cartaz, à entrada da piscina, como sabiam muito bem que não estavam abrangidos pela proibição escrita no cartaz.
Estranham? Admiram-se? Pois venham connosco ouvir a conversa dos pardais:
Pardal - Ricas férias, amigos! Valeu a pena voar de tão longe...
Pardalinho - As pessoas gostam de nos ver. Ainda agora uns estrangeiros repartiram comigo um queque. Estava óptimo.
Pardalão - E os que trazem comida de casa? Tenho depenicado pedacinhos maravilhosos.
Pardalinho - E não há gatos. Sim, sobretudo, não há gatos. Que paz!
Pardalão - Nem cães... Os banhistas que tragam os seus queridos animaizinhos de estimação têm de ficar à porta. Bem feito.
Pardalinho - O aviso, à entrada, é bem claro. Lembram-se do que lá vem?
Pardal, Pardalinho e Pardalão (em coro) - NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A PESSOAS ACOMPANHADAS DE ANIMAIS.
Pardalão - Ora, como ninguém nos trouxe de companhia podemos entrar. É a nossa vantagem.
E riam-se os pardais, numa grande chilreada.
Como se vê, os pardais sabem ler e tirar as suas conclusões. Se o Joca e a mãe passarem os olhos por estas linhas, também hão-de chegar a uma conclusão. A de que não basta ler. É preciso ler sempre bem e aproveitar o mais possível o que se lê.
Os pardais ensinam.

A avó e o S. Nicolau

Vou contar uma história que se passou quando eu era criança. A história do S. Nicolau e da avó.
A minha avó era pequena e franzina e a mim parecia-me muito velhinha. Não por ter rugas ou cabelo branco, mas pela roupa que usava, sempre escura e de um corte antiquado. Também andava sempre com um avental preto, até mesmo ao Domingo. O avental dos domingos era de seda e fazia barulho ao andar.

Todos os anos, no princípio de Dezembro, a avó vinha para nossa casa. Passava o Inverno connosco na cidade. Assim que a avó chegava, começava para mim a época de Natal. Ao crepúsculo das tardes de Inverno, sentávamo-nos as duas diante do fogão de cerâmica. Era um fogão grande e verde e irradiava um calor muito confortável. Nos outros quartos, os fogões eram de ferro e raramente se acendiam.
O fogão tinha uma portinhola por detrás da qual havia uma placa de ferro onde se podia assar maçãs. Ao assar, o cheirinho espalhava-se pela sala, e a avó ia-me lendo histórias em voz alta. Também fazíamos prendas de Natal.
Mas a nossa melhor brincadeira era “Vamos a Belém”, que todos os anos repetíamos. Durava vários dias, talvez semanas até, e deixava a casa em pantanas.
Nada estava a salvo quando andávamos à procura do equipamento para a nossa viagem. Precisávamos de lençóis para a nossa tenda – em que outro sítio se poderia dormir durante a longa viagem para a Terra Santa? Precisávamos de caixas e caixotes para fazermos um barco – de que outra forma poderíamos nós atravessar o Mediterrâneo? Precisávamos de cadeiras e de cobertores para fazermos animais de carga que nos transportassem a nós e à nossa bagagem.
Nessa altura, o meu pai acabava sempre por sentir que lhe faltava qualquer coisa: o martelo, o alicate, os pregos ou o rolo da corda. Uma vez até disse que lhe tinha desaparecido a câmara-de-ar da bicicleta. E tinha razão. Tínhamos precisado dela à última hora para as nossas provisões de água. O caminho passava pelo deserto e já se sabe que os viajantes passam sede por lá, se não levarem água suficiente.
Era sempre uma longa viagem cheia de peripécias. Em terra, tínhamos de vencer lutas com bandidos e animais ferozes. No mar, passávamos por tempestades que quase afundavam o nosso barco. Uma vez, salvei a avó pela saia, mesmo no momento em que ia ser cuspida borda fora
Mas acabávamos sempre por chegar sãs e salvas a Belém. E, como por magia, sempre no dia 24 de Dezembro!
Quando a avó estava em nossa casa, também se passavam coisas misteriosas. Uma vez, ao meter-me na cama, encontrei um grão de ouro na minha almofada. Grãos de ouro! De onde é que vêm os grãos de ouro? Só podem vir das asas dos anjos! Algum anjo devia ter passado a voar sobre a minha cama!
Quando perguntei à avó, ela sorriu, mas não respondeu.
Certa manhã, apareceu uma estrela pendurada no tecto por um fio transparente. Ninguém sabia quem a tinha lá posto. Também ninguém soube explicar como é que o minúsculo presépio feito numa casca de noz fora parar no meio dos meus lápis de cor.
O facto mais maravilhoso era a minha avó conhecer o S. Nicolau. Ela conhecia-o mesmo! Eu sei! Eu estava lá quando ele falou com ela, lá no parque.
Já disse que a avó era antiquada. Mas não era só antiquada na roupa. No resto também. Falava muitas vezes do tempo em que tudo escasseava e ela achava que as pessoas deviam ser mais poupadas no dinheiro e nas coisas.
A avó era-o. Por isso queria trazer o ramo seco que estava caído no caminho.
– Ainda serve para o fogão – disse ela. – Apanha-o, por favor.
Mas eu não queria.
– Não! – disse eu. E, quando ela tentou apanhá-lo, eu afastei-o.
– Nós não apanhamos lenha. Vão levá-la a casa.
Na altura, não sabia porque tinha sido tão impertinente com a avó, mas agora penso que foi por causa das pessoas que passavam. Não queria que pensassem que precisávamos de andar a apanhar a lenha da rua.
A avó hesitou. Reparei que não sabia o que fazer.
De repente, à nossa frente, apareceu um homem idoso. Estava ali como por magia. Alto e respeitável, com uma barba branca e olhos a brilhar.
– Faça favor, minha cara e honrada senhora – disse ele com uma leve vénia. A voz era grave e sonora.
Estremeci como se tivesse sido atingida por um raio. Aquela voz! Aqueles olhos! Aquela barba branca comprida! Só podia… era, de certeza… Nem me atrevia a continuar a pensar. “Minha cara e honrada senhora”, tinha ele dito à avó. Tinha-lhe feito uma vénia e a avó sorrira e agradecera-lhe.
Depois desapareceu. Tão repentinamente como aparecera.
No caminho para casa, não abri a boca. Tropeçava nas pedras do passeio e nas tampas do saneamento, e dentro de mim ia uma grande confusão.
Agora ele viu – pensava eu. – Agora ele já sabe como é que eu às vezes me porto.
A avó caminhava ao meu lado, em silêncio. O ramo meio seco ia a arrastar pelo chão. À porta de casa, não aguentei mais. Enterrei a cara nas pregas da gabardina da avó e desatei num pranto.
A avó deixou-me chorar. Não fez nada para me consolar, e eu pensava: “Agora vai ficar zangada comigo para sempre e aquele… aquele desconhecido do parque, também.”
Mas então reparei que ela se tinha debruçado sobre mim. Sentia a sua respiração quente nos meus cabelos e ouvia-a falar-me muito baixinho. O que dizia, não percebi, porque ainda soluçava com muita força. Não conseguia parar.
A avó então afastou-me um pouco dela e perguntou:
– Queres levá-lo para cima? Já é um pouco pesado para mim.
Claro que percebi imediatamente que se referia ao ramo e por um momento, sustive a respiração. Depois remexi no bolso, tirei um lenço e assoei as lágrimas que tinha no nariz.
– Dá cá! – disse. Peguei no ramo seco e subi ruidosamente as escadas.
Metemo-lo logo no fogão de cerâmica e ouvia-o a crepitar e a estalar.
“Será que ele sabe que fui eu que o carreguei para cima?”, pensava eu. A avó acenou-me com a cabeça e riu-se. Vi então que estava tudo bem outra vez e fiquei muito feliz com isso.


Tilde Michels, Anne Braun (org.), Weihnachtsgeschichten, Würzburg, Arena Verlag, 1991. Tradução e adaptação.




17/12/2010

A lenda de Galahad


Ficheiro:Galahad.jpg

Galaaz (também conhecido por Galahad ou Gwalchavad) é um personagem lendário das histórias do Ciclo Arturiano. Galaaz era um dos Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur e um dos três que conseguiu alcançar o Santo Graal. Era o filho ilegítimo de Lancelote e de Helena de Carbonek.
Galaaz era considerado o cavaleiro mais puro e, consequentemente, o único a poder sentar-se na Cadeira Perigosa da Távola Redonda, um assento que ficava sempre vazio, já que só o escolhido poderia se sentar. Pela sua pureza, Galaaz é considerado uma encarnação de Jesus na forma de cavaleiro.
A concepção de Galahad dá-se quando Helena, filha do Rei Pelinore, usa magia para enganar Lancelote, fazendo-o levar a crer que ela era Guinevere. Eles dormem juntos, mas ao descobrir o que aconteceu, Lancelote deixa Helena e volta para a Corte do Rei Artur. Galaaz é, então, entregue aos cuidados de uma tia sua, abadessa de um convento, e ali criado. "Galahad" era também o nome original de Lancelote, mas é-lhe alterado quando criança, pois Merlin profetiza que o seu filho irá ultrapassar o seu pai em valor e terá sucesso na demanda do Graal.
Ao chegar à vida adulta, Galahad reúne-se ao seu pai, que o torna cavaleiro. É então trazido para a Corte do Rei Artur em Camelot durante o Pentecostes. Sem se aperceber do perigo em que estava a se meter, Galahad dirige-se para a Távola Redonda e senta-se na cadeira proibida. Este lugar tinha sido sempre mantido vago para a única pessoa a alcançar o sucesso na demanda do Santo Graal. Qualquer outra pessoa que aí se sentasse teria morte imediata.
Galaaz sobrevive ao evento testemunhado por Artur e pelos seus cavaleiros. O Rei testa-o então, solicitando-lhe que arrancasse uma espada espetada numa rocha, teste que ele passa com facilidade. O Rei Artur proclama Galahad como o melhor cavaleiro do mundo. Ele é então convidado a juntar-se à Ordem da Távola Redonda e, depois de uma visão do Graal, lança-se na sua demanda.

O incrível poder e sorte de Galahad na demanda do Graal são sempre atribuídos à sua piedade. De acordo com a lenda, só os cavaleiros puros conseguiriam alcançar o Graal. Em termos gerais, a sua pureza refere-se à sua castidade. Galahad parece levar uma vida totalmente sem pecado e, como resultado, vive e pensa num nível totalmente à parte dos outros cavaleiro da lenda.
Talvez devido à sua natureza totalmente pura, Galahad parece quase não-humano. Ele derrota os cavaleiros rivais aparentemente sem esforço, praticamente não lhes fala e leva os seus companheiros ao Graal com uma determinação inderrotável. Assim, dos três que terminam a demanda (Boors, Perceval e o próprio Galahad), ele é o único que realmente o alcança. Quando o faz, Galahad é levado para os Céus, tal como os Patriarcas Bíblicos Enoque e o profeta Elias, deixando os seus companheiros para trás.

Lendas dos Cavaleiros da Távola Redonda


O Pinheirinho




Lá fora, na floresta, encontrava-se um pequeno e belo Pinheirinho. Nasceu num lugar agradável, onde havia muita luz e muito ar. Estava rodeado de muitas árvores maiores — pinheiros, e abetos também — mas o Pinheirinho ansiava por crescer mais. Não dava valor ao ar fresco, ou às crianças que vinham tagarelar para a floresta e procurar morangos e framboesas. Passavam muitas vezes com um cesto cheio, sentavam-se junto do Pinheirinho e diziam: “Que bonito que é aquele pequenino!”, mas não era nada disso que o Pinheirinho queria ouvir.
No ano seguinte, tinha crescido um rebento novo e no ano que se seguiu cresceu ainda mais. Pode-se sempre dizer, pelo número de anéis que tem no tronco, há quantos anos uma árvore está a crescer.
— Oh, se eu ao menos fosse tão grande como os outros! — suspirava o Pinheirinho. — Então, espalharia os meus ramos para bem longe e, do meu topo, estaria atento a todo o mundo. Os pássaros construiriam ninhos nos meus ramos e, quando o vento soprasse, apenas abanaria, tão orgulhoso como as outras árvores.
No Inverno, quando a neve pousa por todo o lado branca e brilhante, uma lebre veio a correr e saltou por cima do Pinheirinho, o que o pôs zangado. Mas, três Invernos passado, a pequena árvore tinha crescido tanto que a lebre teve de a contornar.
“Oh, crescer, crescer e envelhecer! É, de certeza, a melhor coisa do mundo”, pensou a árvore.
No Outono, os lenhadores vinham sempre para abater algumas das árvores maiores. O Pinheirinho estremeceu de medo, pois as árvores grandes caíam estrondosamente no chão e os ramos eram cortados para que parecessem bastante despidas. Eram colocadas em camiões e levadas dali. “Para onde iriam?”, perguntou-se o Pinheirinho.
Na Primavera, quando as andorinhas e as cegonhas chegaram, a árvore perguntou-lhes:
— Sabem para onde vão as árvores? Viram-nas?
As andorinhas responderam que não, mas a cegonha disse:
— Sim, penso que sim. Vi muitos navios novos, quando deixei o Egipto. Tinham mastros muito altos; penso que eram as árvores. Cheiravam a abetos. Tudo o que posso dizer é que eram altas e imponentes — muito imponentes.
— Quem me dera ser suficientemente grande para ir para o mar! — suspirou o Pinheirinho. — Que tipo de coisa é o mar e a que se assemelha?
— Levaria muito tempo para explicar tudo isso — disse a cegonha. E partiu.
— Devias estar feliz por ainda seres jovem e forte — disseram os raios de Sol. E o vento e a chuva beijaram a árvore, mas o Pinheirinho não queria saber do que eles diziam.
Por altura do Natal, foram cortadas muitas árvores jovens; árvores que eram mais jovens e mais pequenas do que este Pinheirinho impaciente. A estas belas e jovens árvores não foram cortados os ramos quando foram colocadas nos camiões e levadas para fora do bosque.
— Para onde vão? — perguntou o Pinheirinho. — Algumas são muito mais pequenas do que eu. Porque é que não lhes cortaram os ramos? Para onde vão ser levadas?
— Nós sabemos! Nós sabemos! — chilrearam os pardais. — Andamos sempre a espreitar pelas janelas na cidade e, por isso, sabemos para onde vão. Vão ser decoradas da maneira mais bonita que possas imaginar. Olhámos pelas janelas e vimos que eram colocadas em vasos, numa quente sala de estar, e decoradas com as coisas mais bonitas — maçãs douradas, bolos de mel, brinquedos e centenas de velas. — E depois? — perguntou o Pinheirinho, com todos os ramos a tremer. — E depois? O que acontece depois?
— Bem — disse o pardal — só vimos isso, mas era maravilhoso.
— Talvez isso me aconteça um dia! — gritou o Pinheirinho. — Isso ainda era melhor do que viajar pelo mar. Se pelo menos agora fosse Natal! Oh, se ao menos me levassem! Se ao menos estivesse numa sala de estar quente, decorado com coisas bonitas! E depois? O que aconteceria? Devia ser ainda mais maravilhoso. Porque me enfeitariam? Oh, quem me dera que isto me acontecesse!
— Sê feliz aqui connosco — disseram o ar e a luz do Sol. — Sê feliz aqui na floresta.
Mas o Pinheirinho não era nada feliz. Crescia, crescia e continuava ali, verde, verde-escuro. As pessoas que o viam diziam: — É uma árvore muito bonita! E, por altura do Natal, foi cortada antes dos outros. O machado cortou-a bem fundo, no tronco, e a árvore caiu para o chão com um suspiro: sentiu uma dor, e agora estava triste por ter de deixar o lar. Sabia que nunca mais iria ver os amigos, os pequenos arbustos e as flores — talvez até os pássaros.
A árvore só voltou a si quando estava a ser descarregada num quintal, juntamente com outras árvores, e ouviu um homem dizer:
— Esta é a melhor. Só queremos esta!
Depois, vieram dois criados vestidos com uniformes brilhantes e levaram o Pinheirinho para uma sala enorme e bonita. Havia, por todo o lado, quadros pendurados nas paredes e, junto do fogão, estavam enormes jarros chineses com leões.
Havia cadeiras de baloiço, sofás de seda, mesas cobertas de livros ilustrados e centenas de brin quedos por todo o lado.
O Pinheirinho foi posto dentro de um vaso grande com areia. A árvore tremeu! O que iria acontecer a seguir? Os criados e as crianças começaram a enfeitá-lo. Nos ramos, penduraram pequenos sacos feitos de papel colorido. Cada saco era enchido com guloseimas; maçãs douradas e nozes pendiam, como se tivessem nascido ali, e centenas de velinhas foram atadas aos galhos. Bonecas que pareciam pessoas de verdade pendiam de outros ramos e, mesmo no topo da árvore, estava fixada uma estrela de latão. Era magnificente, extraordinário!
— Esta noite — disseram todos — esta noite, a estrela brilhará.
— Oh — disse o Pinheirinho — se ao menos já fosse noite! Oh, espero que acendam as velas brevemente. Será que as árvores vêm da floresta para me ver? E será que os pardais vão espreitar pelas janelas? Será que vou ficar aqui ornamentado para sempre?
Todas estas perguntas causaram dores de costas à árvore e as dores de costas são tão más para as árvores como as dores de cabeça para as pessoas. Por fim, as velas foram acesas. Que brilho, que esplendor! O Pinheirinho tremeu tanto que uma das velas pegou fogo a um ramo verde, mas foi rapidamente apagado.
E, naquele momento, as portas foram abertas de par em par e as crianças entraram cheias de pressa. Olharam fixamente e em silêncio para a árvore, mas apenas por um minuto. Começaram a gritar de alegria e a dançar à volta da árvore, puxando os presentes.
“O que estão a fazer?”, pensou o Pinheirinho. “O que se está a passar?”
As velas arderam até ao fim, as crianças tiraram as guloseimas da árvore e dançaram com os brinquedos novos. Já ninguém olhava para a árvore, excepto um homem idoso que se aproximou e espreitou por entre os ramos para ver se todas as nozes e maçãs tinham sido comidas.
— Uma história! Uma história! — gritavam as crianças, e levaram, para junto da árvore, um homem divertido, que se sentou mesmo debaixo dela.
— Vamos fingir que estamos no bosque verde — disse — e que a árvore consegue ouvir o conto.
E o homem divertido contou o conto de Klumpey-Dumpey, que estava sempre a cair pelas escadas abaixo e, já no fim, casou com uma princesa. O Pinheirinho ficou bastante silencioso e pensativo. Os pássaros do bosque nunca tinham contado uma história como esta. Klumpey-Dumpey sempre a cair pelas escadas abaixo e, mesmo assim, casou com uma princesa.
— Bem! Bem! — disse o Pinheirinho. — Quem sabe? Talvez eu também tenha de cair pelas escadas abaixo e casar com uma princesa! — e estava ansioso por ser de novo decorado com velas, brinquedos e frutos, na noite seguinte.
Mas, de manhã, os criados vieram tirá-lo da sala, levaram-no para o sótão e puseram-no num canto, onde não entrava a luz do dia. “O que significa isto?” pensou a árvore. “O que estou a fazer aqui? O que está a acontecer?”
Encostou-se à parede, pensou e pensou. E teve tempo suficiente, pois passaram-se dias e noites e ninguém voltou lá a subir.
A árvore parecia ter sido totalmente esquecida.
— Agora, é Inverno lá fora — disse o Pinheirinho. — A terra está dura e coberta de neve, e as pessoas não podem plantar-me. Suponho que devo ficar aqui abrigado, até que venha a Primavera. Que atenciosos! Mas que pessoas boas! Se ao menos aqui eu não estivesse tão às escuras e tão sozinho!… Era bonito lá fora, na floresta, quando a neve pousava espessa, e aquela lebre vinha saltar por cima de mim; mas, na altura, eu não gostava. Isto aqui em cima é terrivelmente solitário! Mas que pessoas boas!
De repente, dois ratinhos aproximaram-se lentamente. Cheiraram o Pinheirinho e, depois, subiram para os ramos.
— Está muito frio aqui em cima — disseram os dois ratinhos. — Também achas, árvore velha?
— Não sou velha — disse o Pinheirinho.
— De onde vens? — perguntaram os ratos. — E o que conheces?
Eram muito inquisitivos.
— Conta-nos sobre o lugar mais bonito do mundo! Já estiveste lá?
— O lugar mais bonito do mundo — disse a árvore — é a floresta, onde o Sol brilha e os pássaros cantam. E, depois, contou aos ratos tudo sobre a sua juventude. Os ratinhos ouviram e disseram:
— Tantas coisas que já viste! Deves ter sido muito feliz!
— Fui — disse o Pinheirinho. — Aqueles foram, realmente, tempos de felicidade.
Mas, depois, contou-lhes sobre a Véspera de Natal, quando tinha sido enfeitado com guloseimas e velas.
— Oh! — disseram os ratinhos. — Como foste tão feliz, árvore velha!
— Não sou velha — disse a árvore. — Só saí da floresta este Inverno.
— Mas que histórias maravilhosas podes contar! — disseram os ratinhos.
E no dia seguinte, vieram com mais quatro ratinhos para ouvir o que a árvore tinha para contar.
Assim, o Pinheirinho contou-lhes a história do Klumpey-Dumpey e os ratinhos correram direitos para o topo da árvore, cheios de satisfação. Na noite seguinte, vieram muito mais ratos, e o Pinheirinho contou outra vez a mesma história. Mas, quando descobriram que a árvore não sabia mais histórias, os ratos ficaram aborrecidos e foram-se embora.
O Pinheirinho ficou triste.
— Era muito agradável, quando os ratinhos divertidos ouviam a minha história, mas em breve vai chegar a Primavera. Vou ficar tão feliz quando me tirarem deste local solitário!…
Quando chegou a Primavera, as pessoas vieram remexer no sótão. Um criado levou a árvore para baixo, onde a luz do dia brilhava.
“Agora, a vida vai começar de novo!”, pensou a árvore.
Sentiu o ar fresco e os raios do Sol no pátio. O pátio estava perto de um jardim, onde as rosas estavam em flor, as árvores cheias de folhas e as andorinhas a cantar.
— Agora, tenho de viver! — disse a árvore, alegremente, e esticou os ramos. Mas, meu Deus! Estavam todos murchos e amarelos. Ficou a um canto, entre as urtigas e as ervas daninhas. A estrela de latão ainda lá estava e brilhava com a luz do Sol.
No pátio, as crianças, que no Natal tinham dançado à volta da árvore, estavam a brincar. Uma delas trepou à árvore e tirou a estrela dourada.
— Vejam o que está agarrado a este velho e feio Pinheirinho — disse a criança, e começou a pisar-lhe os ramos até partirem debaixo das botas.
E a árvore olhou para todas as flores e para o belo jardim e, depois, para ela própria, e desejou ter ficado no canto escuro do sótão. Pensou na juventude fresca na floresta, na Véspera de Natal feliz e nos ratinhos que ouviram com tanta alegria a história do Klumpey-Dumpey.
— Passado! Passado! — disse a velha árvore. — Acabou tudo. Se ao menos tivesse sido mais feliz naquela época.
E veio um criado e cortou a árvore aos pedacinhos. Estava ali um feixe enorme. Ardia resplandecente no fogão, suspirava profundamente e cada suspiro era uma pequena explosão. As crianças sentaram-se junto da lareira, olharam para ela e gritaram:
— Zás! Trás!
Mas, a cada explosão, que era um suspiro profundo, a árvore pensava num dia de Verão na floresta, ou numa noite de Inverno, quando as estrelas brilhavam. Pensava na Véspera de Natal e no Klumpey-Dumpey, a única história que tinha ouvido ou que sabia contar; e, depois, a árvore foi queimada.
As crianças brincaram no jardim e o mais novo usou a estrela dourada que a árvore tinha usado na sua noite mais feliz.
Agora, tudo acabara. A vida da árvore tinha terminado e o conto também.


Hans Christian Andersen


15/12/2010

O peixe e o gato



Era uma vez um peixe.
Era uma vez um gato,
um gato gaiato com sonhos e cócegas de gato macaco.
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato.
Ó peixe de prata, de prata barata,
vem jogar comigo ao gato e ao rato.

O peixe dançava nos olhos do gato.
Por dentro do vidro, voava em recato...
?Há perigo? Que perigo?
Estou vivo e bem vivo
e bem protegido"
Bolinhas subiam em ondas de ornato...

E o gato, um safado, malhado do mato,
Dizia, baixinho, de encontro ao buraco.
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora,
eu vou para a redoma,
tu vens cá para fora.
É que ando cansado do ar que respiro,
suspiro por água. Nadando, sou foca,
sou pato a vapor, sou gato a motor...
Salta daí! Vamos! Troca!

O peixe descia... fugia... fugia...
Não ia em batota nem troca-baldroca.


- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato
- Tens boca e não falas?
Mas, diz, finalmente não vais no contrato?


O peixe de prata, de prata lavrada
nadava, nadava...

Então, mais sensato, o gato-pingado
gritou para o buraco:
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo.
Fica do teu lado, que eu fico onde fico
e desde já te digo,
meu carapau calado,
que hás-de afogado
morrer, para castigo.

Lá foi o gato amuado
pregar para outro postigo,
enquanto o peixe de prata
nadava de largo em largo
no lago feito baía.
E cada escama lhe ria...

13/12/2010

A águia e a gralha



Uma Águia, saindo do seu ninho no alto de um penhasco, capturou uma ovelha e a levou presa às suas fortes garras. Uma Gralha, que testemunhara a tudo, tomada de inveja, decidiu que poderia fazer a mesma coisa.
Ela então voou para alto e tomou impulso. Então, com grande velocidade, atirou-se sobre uma Ovelha com a intenção de também carregá-la presa às suas garras.
Ocorre que estas acabaram por ficar embaraçadas no espesso manto de lã do animal, e isso a impediu inclusive de soltar-se, embora o tentasse com todas as suas forças.
O Pastor das ovelhas, vendo o que estava acontecendo, capturou-a. Feito isso, cortou suas penas, de modo que não pudesse mais voar. À noite a levou para casa e entregou como brinquedo para seus filhos.
"Que pássaro engraçado é esse?", perguntou um deles.
"Ele é uma Gralha meus filhos. Mas se você lhe perguntar, ele dirá que é uma Águia."

Moral da História:
Não devemos permitir que a ambição nos conduza para além dos nossos limites.


Fábulas de Esopo

06/12/2010

Lenda da Queimada Galega


A Galícia é uma região ao norte da Espanha na qual predomina uma forte influência da cultura Celta. Para compreender a Lenda da Queimada Galega, vamos falar um pouco a respeito dos celtas.
O povo celta era pagão, ou seja, baseava-se nas forças da Terra para conduzir a vida e seus meios de sobrevivência. Acreditavam na proteção de diversos deuses, todos atuantes sob os auspícios da Grande Mãe.
Um dos principais deuses celtas é Dagda, o deus da abundância. E é ele o condutor do ritual da Queimada, pois, é ele quem carrega os quatro atributos notáveis: o “caldeirão da abundância”, que protege a colheita e, por conseqüência, o alimento, e também garante a boa passagem dos mortos à vida espiritual; a “moca”, uma poderosa arma que é constituída por dois lados, um que mata e outro que ressuscita; a “harpa”, que contém a melodia de todos os sons; e a “roda”, o círculo cósmico da espiral do apocalipse.
Os celtas, acreditando no poder deste Deus, por meio de seus sacerdotes, os Druidas, criaram uma festa como forma de pacto com Dagda, que protegeria o povo dos males que poderia acometê-los caso o Deus fosse desagradado. Na verdade, uma superstição característica desse povo.
Foi criada, então, a cada fim de ano, a festa de Samain, na qual todas as pessoas saíam de sua casa e apagavam todas as fontes de luz a fim de permitir aos Anaon (os mortos) visitar os familiares. Para tanto, misturavam em um grande caldeirão as bebidas mais fortes e os frutos mais doces. Ferviam-nos até que atingisse a consistência de um licor - chamado de “queimada” - o qual bebiam até não mais aguentarem. Este ritual era celebrado com música e dança. Ao amanhecer, acordavam e levavam consigo uma brasa incandescente provinda do resto da fogueira da festa e que era usada para reacender os braseiros e velas que iluminavam as casas. O conjuro consistia em glorificar Dagda e pedir que eliminasse os efeitos nocivos dos Anaon.
A festa de Samain posteriormente deu origem à data folclórica do Hallowenn (dia das bruxas). Por isso o costume de visitar as casas solicitando “doces ou travessuras”.

Na Galícia, a data é comemorada todos os anos simbolizando a manutenção da abundância nos meses de inverno com a “brasa” trazida dos meses de verão.
No ritual, os galegos sucedem a mesma mistura de bebidas e frutos doces, em um grande caldeirão e proferem o “conjuro da queimada”:
"Mouchos, coruxas, sapos e bruxas. Demos, trasnos e dianhos, espritos das nevoadas veigas. Corvos, pintigas e meigas, feitizos das mencinheiras. Pobres canhotas furadas, fogar dos vermes e alimanhas. Lume das Santas Companhas, mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios. Oubeo do can, pregon da morte, foucinho do satiro e pe do coello. Pecadora lingua da mala muller casada cun home vello. Averno de Satan e Belcebu, lume dos cadavres ardentes, corpos mutilados dos indecentes, peidos dos infernales cus, muxido da mar embravescida. Barriga inutil da muller solteira, falar dos gatos que andan a xaneira, guedella porra da cabra mal parida. Con este fol levantarei as chamas deste lume que asemella ao do inferno, e fuxiran as bruxas acabalo das sas escobas, indose bañar na praia das areas gordas. ¡Oide, oide! os ruxidos que dan as que non poden deixar de queimarse no agoardente, quedando asi purificadas. E cando este brebaxe baixe polas nosas gorxas, quedaremos libres dos males da nosa ialma e de todo embruxamento. Forzas do ar, terra, mar e lume, a vos fago esta chamada: si e verdade que tendes mais poder que a humana xente, eiqui e agora, facede cos espritos dos amigos que estan fora, participen con nos desta queimada."


Lendas do Mundo


Batalha de Mag Tuired e o Nascimento de Bres filho de Elatha e seu Reinado.



Os Tuatha De Danann viviam nas ilhas ao norte do mundo, estudando a sabedoria oculta e a feitiçaria, as artes druídicas e a magia e a habilidade mágica, até que eles sobrepujaram todos os sábios das artes do paganismo.
Eles estudaram a sabedoria oculta e o conhecimento secreto e as artes diabólicas em quatro cidades: Falias, Golias, Murias, e Findias...
Para Falias foi trazida a Pedra de Fal que estava localizada em Tara. Ela era usada para gritar quando o verdadeiro rei da Irlanda se pusesse de pé sobre ela.
Para Gorias foi trazida a lança que Lug possuiu. Nenhuma batalha foi alguma vez sustentada contra ela, ou contra o homem que a segurasse em sua mão.
Para Findias foi trazida a espada de Nuadu. Ninguém jamais escapou dela uma vez que estivesse fora de sua mortífera bainha, e ninguém poderia opor-se a ela.
Para Murias foi trazido o Caldeirão de Dagda. Nenhuma companhia alguma vez o deixou insatisfeita.
Havia quatro magos nestas quatro cidades. Morfesa estava em Falias; Esras estava em Gorias; Uiscias estava em Findias e Semias estava em Murias. Estes eram os quatro bardos de quem os Tuatha De aprenderam a sabedoria oculta e o conhecimento secreto.
Os Tuatha De fizeram então aliança com os Fomorianos, e Balor, o neto de Net, deu sua filha Ethne a Cian, o filho de Dian Cecht. E ela gerou a gloriosa criança, Lug.
Os Tuatha De chegaram a Irlanda com uma grande esquadra para tomá-la a força dos Fir Bolg. Após chegarem ao território de Corcu Belgatan (atualmente Conmaicne Mara), eles imediatamente queimaram seus barcos de forma que não pensassem em fugir neles. A fumaça e a névoa saída dos barcos encheram a terra e o ar ao redor. Por esta razão se pensou que eles chegaram em nuvens de neblina.
A Batalha de Mag Tuired foi lutada entre eles e os Fir Bolg. Os Fir Bolg foram derrotados, e cem mil dos seus foram mortos incluindo o rei, Eochaid mac Eire.
A mão de Nuadu foi cortada fora nessa batalha, Sreng mac Sengainn a golpeou. Então com Credne, o brazeiro, o ajudando, Dian Cecht, o médico, colocou nele uma mão de prata que se mexia como qualquer outra mão.
Ora, os Tuatha De Danann perderam muitos homens na batalha, incluindo Edleo mac Allai, e Ernmas, e Fiacha, e Tuirill Bicreo.
Então aqueles dos Fir Bolg que escaparam da batalha fugiram para os Fomorianos, e eles se estabeleceram em Arran e em Islay e em Man e em Rathlin.
Havia uma disputa quanto a soberania dos homens da Irlanda entre os Tuatha De e suas esposas desde que Nuadu se tornou inelegível para a realeza depois que sua mão foi cortada fora. Eles diziam que o homem apropriado para tomar o reino era Bres, o filho de Elatha, filho adotivo deles, e que o entregando à criança atariam uma aliança com os Fomorianos, visto que seu pai, Elatha mac Delbaith, era o rei dos Fomorianos.
Ora, a concepção de Bres se deu desta forma:
Um dia uma mulher dos Tuatha De, Eriu, a filha de Delbaeth, estava olhando para o mar e a terra de sua casa de Maeth Sceni; e ela viu o mar perfeitamente calmo como se fosse uma tábua lisa. Depois disso, no tempo em que esteve ali ela viu uma coisa: um navio de prata apareceu para ela no mar. Seu tamanho lhe pareceu grande mas sua forma não ficou clara para ela; e a corrente do mar carregou-o até a terra.
Então ela viu que o navio trazia um homem de bela aparência. Ele tinha um cabelo louro dourado que lhe caia pelos ombros, e uma capa com ataduras de ouro. Sua camisa possuía ornamentos de ouro. Em seu peito estava um broche de ouro com uma brilhante pedra preciosa. Trazia duas brilhantes lanças de prata e nelas duas firmes pontas de bronze. Cinco anéis de ouro lhe rodeavam da nuca. Carregava uma espada dourada com inscrições em prata e botão dourado.
O homem disse-lhe: "Poderia eu, ter um momento de amor contigo?".
"Certamente ainda não marquei nosso encontro", disse ela.
"Venha sem o encontro", ele respondeu.
Então deitaram juntos, e a mulher chorou quando o homem subiu outra vez.
"Porque você está chorando?", ele perguntou.
"Eu tenho duas razões para lamentar", disse a mulher, "separar-me-ei de ti, todavia nós nos conhecemos hoje, e os jovens homens dos Tuatha De Danann tem implorado em vão me possuir como você fez."
"Sua ansiedade sobre essas duas coisas será removida," ele disse. Ele tirou seu anel de ouro do dedo médio e o colocou na mão dela, e disse-lhe que ela não deveria abrir mão dele, nem para vender tampouco para presentear, exceto para alguém em cujo dedo ele coubesse.
"Outra coisa me preocupa", disse a mulher, "eu não sei quem esteve comigo e me possuiu".
"Você não ficará ignorante de tal pessoa", ele disse. "Elatha mac Delbaith, rei dos Fomorianos, esteve contigo. Você dará a luz a um filho como resultado de nossa união, e não darás outro nome a ele além de Eochu Bres (isto é, Eochu, o belo), porque cada bela coisa que ser ver na Irlanda, como planície e fortaleza, cerveja e vela, mulher e homem e cavalo serão julgados em relação e este menino, de forma que as pessoas dirão a estas coisas, 'Isto é um Bres.'"
Então o homem foi embora, e a mulher retornou para sua casa, e a famosa fecundação se deu nela.
Então ela deu a luz a um menino, e o nome Eochu Bres foi lhe dado como Elatha havia dito. Uma semana depois do acontecimento o menino já tinha duas semanas de crescimento; e ele manteve esse crescimento por sete anos, ao fim dos quais havia se desenvolvido como uma criança de quatorze anos.
Como resultado da disputa que acontecia entre os Tuatha De, a soberania da Irlanda foi dada para este jovem; e ele deu sete reféns aos guerreiros da Irlanda (seus parentes por parte de mãe) como garantia da resituição da soberiania Irlandesa, caso ele praticasse maus atos. Então sua mãe lhe deu seu reino, e ele possuía uma fortaleza construída neste reino, Dun mBresse. E foi o Dagda que construiu esta fortaleza.
Mas depois de Bres ter assumido a soberania, três reis Fomorianos (Indech mac De Domnann, Elatha mac Delbaith, e Tethra) impuseram um tributo à Irlanda, e não havia fumaça de uma casa na Irlanda que não estivesse sob este tributo. Além disso, os guerreiros da Irlanda estavam reduzidos para servi-los: Ogma debaixo de uma pilha de madeira e o Dagda como um construtor de defesas, e ele construiu uma fortificação em volta da fortaleza de Bres.
Ora, o Dagda estava triste no trabalho, e na casa que ele usava pra comer havia um preguiçoso homem cego chamado Cridenbel, cuja boca originava-se no peito. Cridenbel considerava sua refeição pequena e a de Dagda grande, então ele disse, "Dagda, por sua honra dê-me os três melhores pedaços de sua porção!", e o Dagda acostumou-se a da-los a ele toda noite. Mas os pedaços do satírico eram grandes: cada pedaço tinha o tamanho de um avantajado porco. Além disso, aqueles três pedaços eram um terço da porção de Dagda. A aparência de Dagda estava muito ruim por isso.
Então um dia o Dagda estava numa vala e ele viu o Mac Oc indo em sua direção.
"Saudações a ti, Dagda!", disse o Mac Oc.
"E a ti", disse o Dagda.
"O que faz você parecer tão mal?", ele perguntou.
"Eu tenho uma boa causa", disse ele. "Toda noite Cridenbel, o satírico, exige de mim os três melhores pedaços de minha porção."
"Eu tenho um conselho para você", disse o Mac Oc. Ele colocou as mãos nos bolso e pegou três moedas de ouro, e as ofereceu para ele.
"Coloque", continuou ele, "essas três moedas de ouro nos três pedaços de Cridenbel ao anoitecer. Então esses serão os melhores de teu prato, então o ouro se encravara em seu ventre e por isso ele morrerá; e mais tarde o julgamento de Bres não será justo. Os homens dirão ao rei, 'O Dagda matou Cridenbel com uma erva mortal que deu a ele.' Então o rei ordenará que você seja morto, e tu dirás a ele, 'O que você diz, rei dos guerreiros de Feni, não condiz com a honestidade de um governante. Porque ele vinha me importunando desde que comecei meu trabalho, dizendo a mim: "dê-me os três melhores pedaços de sua porção, Dagda.Estou fraco hoje", realmente, eu o mataria por isso, se as três moedas de ouro que encontrei aquele dia não me tivessem ajudado. Eu as coloquei em minha porção, então dei-a a ele, porque o ouro era a melhor coisa que havia diante de mim. Então o ouro está agora em Cridenbel, e ele o matou.'
Assim foi feito, e disse o rei, pronunciando seu julgamento: "Está certo, tirem fora o estômago do satírico para ver se o ouro é encontrado nele. Se não for encontrado, você morrerá, entretanto, se for encontrado, você viverá”.
Então eles cortaram fora o estômago do satírico e encontraram as três moedas de ouro em suas entranhas, e Dagda foi salvo.
Então o Dagda voltou para o seu trabalho na manhã seguinte, e o Mac Oc foi a ele e disse, "Em breve você finalizara seu trabalho, mas não pedira pagamento até que o gado da Irlanda seja trazido a você. Escolha dentre eles uma escura, de crina negra, treinada e impetuosa novilha”.
Então o Dagda concluiu seu trabalho, e Bres perguntou-lhe o que ele queria como recompense pelo seu labor. O Dagda replicou, "Eu exijo que você reúna o gado da Irlanda em um único lugar." O rei fez o que ele pediu, e ele escolheu a novilha sobre a qual o Mac Oc lhe disse. Isso pareceu tolo a Bres. Ele pensou que ele escolheria algo mais.
Ora, Nuadu havia sido tratado, e Dian Cecht havia lhe dado uma mão de prata que se movia como qualquer outra mão. Mas seu filho Miach não gostou disso. Ele foi até a mão que havia sido substituída e disse "junta ligue-se com junta, e tendão com tendão"; e ele curou-a em nove dias e nove noites. Nos primeiros três dias ele carregou-a ao seu lado, e ela ficou coberta com pele. Nos segundos três dias ele carregou-a junto ao peito. Nos últimos três dias ele lançou brancos feixes de junco negro após terem sido escurecidos com fogo. Dian Cecht não gostou dessa cura. Ele atirou uma espada na cabeça de seu filho e cortou sua pele deixando-o em carne viva. O jovem se curou através de suas habilidades. Ele golpeou-o de novo e cortou sua carne até alcançar o osso. O jovem se curou pelos mesmos meios. Ele lhe infligiu um terceiro golpe e atingiu a membrana de seu cérebro. O jovem se curou pelos mesmos meios. Então ele o golpeou uma quarta vez e tirou fora seu cérebro, de forma que Miach morreu; e Dian Cecht disse que nenhum médico poderia curá-lo dessa ferida.
Depois disso, Miach foi enterrado por Dian Cecht, e trezentas e sessenta e cinco ervas cresceram através da sepultura, correspondendo ao número de suas juntas e tendões. Então Airmed estendeu seu manto e arrancou essas ervas de acordo com suas propriedades. Dian Cecht foi a ela e misturou as ervas, de forma que ninguém soubesse suas propriedades medicinais além do Espírito Sagrado que lhes ensinaria mais tarde. E Dian Cecht disse: "Apesar de Miach não ter vivido muito, Airmed ficará”.
Enquanto isso, Bres mantinha o reinado a ele concedido. Existia um grande murmurinho contra ele entre seus parentes dos Tuatha De, porque suas facas não eram engorduradas por ele. Todavia freqüentemente eles viessem, seu hálito não cheirava a cerveja; e eles não viam seus poetas, nem seus bardos, nem seus satíricos, nem seus harpistas, nem seus flautistas, nem seus tocadores de chifres, nem seus malabaristas, nem seus palhaços em reuniões familiares. Eles não iam para competições de famosos artistas, nem viam seus guerreiros provando suas habilidades perante o rei, exceto por um homem, Ogma, o filho de Lain.
Essa era a responsabilidade que ele tinha: levar lenha para a fortaleza. Ele trazia uma pilha todo dia das ilhas de Clew Bay. O mar levava dois terços de sua carga porque ele ficava fraco pela falta de comida. Ele trazia apenas um terço que fornecia para o anfitrião todo dia.
Mas nenhum serviço nem pagamento para as tribos perseverou; e os tesouros da tribo não foram doados, devido ao comportamento de toda tribo.
Numa ocasião um poeta foi a casa de Bres procurando hospitalidade (este era Coirpre, filho de Etain, o poeta dos Tuatha De), ele entrou numa apertada, suja, escura, e pequena casa; e ali não havia fogo nem móveis nem cobertores. Três pequenos bolos foram trazidos a ele num pequeno prato, e eles estavam secos. No dia seguinte ele acordou, e ele não estava grato. Enquanto ele ia para o pátio ele disse,

"Sem comida rapidamente no prato,
Sem leite de vaca para os bezerros crescerem,
Sem habitações humanas na escuridão da noite,
Sem pagamento para uma companhia de contadores de historias, esta é a situação de Bres."
"A prosperidade de Bres não existira por muito tempo," ele disse, e isso era verdade. Havia apenas destruição nele desde aquela hora; e esta foi a primeira sátira que ele fez na Irlanda.
Ora, depois os Tuatha De foram falar com seu filho adotado Bres mac Elathan, e eles pediram-lhe seus reféns. Ele entregou-lhes a restauração da realeza, e eles não lhe respeitaram como devidamente qualificado para governar daquele momento em diante. Ele exigiu permanecer até o fim de sete anos. "Você terá o que pede," a mesma assembléia concordou, "garantindo que a guarda de todo pagamento destinado a ti — incluindo casa e terras, ouro e prata, gado e comida – serão garantidos pelas mesmas formas de segurança, e que teremos liberdade de tributo e pagamento até então."
"Vocês terão o que pedem," disse Bres.
E é por tal razão que pediram o atraso: para que ele conseguisse juntar os guerreiros de sid, os Fomorianos, para tomar posse dos Tuatha através da força desde que ele conseguisse uma exorbitante vantagem. Ele não estava disposto a ser afastado de seu reinado.
Então ele foi para sua mãe e lhe perguntou onde estava sua família. "Eu estou certa sobre isso," ela disse, e foi para a colina da qual ela viu o navio prateado no mar. Ela então foi para a praia. Sua mãe lhe deu o anel que foi deixado com ela, e ele o colocou em seu dedo médio, e ele coube. Ela não abriu mão dele por ninguém, tampouco para vender ou presentear. Até aquele dia, não houve nenhum dos motivos que se ajustasse a isso.
Então eles avançaram até que alcançaram a terra dos Fomorianos. Eles chegaram a uma grande campina com muitas comunidades sob ela, e eles alcançaram a melhor destas comunidades. Dentro, pessoas exigiram informações sobre eles. Então eles perguntaram se eles possuíam cachorros, já que neste tempo isso era um costume quando um grupo de homens visitava outra comunidade, para desafiá-los em uma amistosa competição. "Nós possuímos cachorros," disse Bres. Então os cães participaram de uma corrida, e aqueles dos Tuatha De eram tão rápidos quanto os dos Fomorianos. Então perguntaram se eles possuíam cavalos para correr. Eles responderam, "Nós temos," e eles eram tão rápidos quanto os cavalos dos Fomorianos
Então perguntaram se eles possuíam qualquer um que fosse bom com a espada, e ninguém foi encontrado entre eles exceto Bres. Mas quando ele levantou a mão com a espada, seu pai reconheceu o anel em seu dedo e perguntou quem o guerreiro era. Sua mãe respondeu em seu favor e contou ao rei que Bres era seu filho. Ela relatou-lhe toda a história como já foi relatado.
Seu pai estava melancólico a respeito dele, e perguntou, "Que força traz você para fora das terras que governa?"
Bres respondeu, "Nada me trás exceto minha própria injustiça e arrogância. Eu desprovi-os de suas preciosidades e posses e de sua própria comida. Nenhum tributo nem pagamento foi recebido deles até agora."
"Isso é mau," disse seu pai. "Melhor a prosperidade deles do que de sua realeza. Melhor seus pedidos do que suas maldições. Porque então você veio?" perguntou seu pai.
"Eu vim para pedir-lhe guerreiros," ele disse. "Eu pretendo tomar aquela terra pela força."
"Você não deve ganha-la pela injustiça se não pode ganha-la pela justiça," ele disse.
"Eu tenho uma pergunta então: que conselho pode dar a mim?" disse Bres.
Depois disso ele mandou-lhe para o campeão Balor, neto de Net, o rei dos Hebrides, e para Indech mac De Domnann, o rei dos Fomorianos; e estes reuniram todas as forças desde Lochlainn na direção do oeste para a Irlanda, para impor seus tributos e seu governo sob eles pela força, e eles fizeram uma única ponte de barcos desde as Hebrides até a Irlanda.
Nenhuma tropa chegou a Irlanda que não fosse mais assustadora e terrível que as tropas dos Fomorianos. Existia rivalidade entre os homens da Scythia de Lochlainn e os homens fora das Hebrides a respeito desta expedição.
Quanto aos Tuatha De, porém, isso é discutido aqui.
Depois de Bres, Nuadu estava uma vez mais na soberania dos Tuatha De; e neste tempo ele organizou um grande banquete para os Tuatha De em Tara. Ora, havia certo guerreiro cujo nome era Samildanach a caminho de Tara. Naquele tempo existiam uns porteiros em Tara chamados Gamal mac Figail e Camall mac Riagail. Quando o segundo estava em serviço, ele viu uma estranha companhia vindo em sua direção. Um belo, forte e jovem guerreiro com um diadema real atado à fronte.
Eles ordenaram ao porteiro que anunciasse sua chegada a Tara. O porteiro perguntou, "Quem esta aqui?".
"Lug Lormansclech esta aqui, o filho de Cian filho de Dian Cecht e de Ethne filha de Balor. Ele é o filho adotado de Tailtiu, a filha de Magmor, o rei da Espanha, e de Eochaid Garb mac Duach."
O porteiro então perguntou a Samildanach, "Que artes você pratica? Ninguém sem alguma arte entra em Tara."
"Perguntou-me," ele disse. "Eu sou um construtor."
O porteiro replicou, "Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um construtor, Luchta mac Luachada."
Ele disse, "Perguntou-me, porteiro: Eu sou um ferreiro."
O porteiro replicou "Nós já possuímos um ferreiro, Colum Cualeinech das três novas técnicas."
Ele disse, "Perguntou-me: Eu sou um campeão."
O porteiro replicou, "Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um campeão, Ogma mac Ethlend."
Ele disse novamente, "Perguntou-me." "Eu sou um harpista," ele disse.
"Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um harpista, Abcan mac Bicelmois, o que foi escolhido pelos homens dos três deuses nas muralhas de sid."
Ele disse, "Perguntou-me: Eu sou um guerreiro."
O porteiro replicou, "Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um porteiro, Bresal Etarlam mac Echdach Baethlaim."
Então ele disse, "Perguntou-me, porteiro. Eu sou um poeta e um historiador."
"Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um poeta e historiador, En mac Ethamain."
Ele disse, "Perguntou-me. Eu sou um feiticeiro."
"Nós não precisamos de você. Nós já possuímos feiticeiros. Nossos druidas e nossas pessoas de poder são numerosos."
Ele disse, "Perguntou-me. Eu sou um médico."
"Nós não precisamos de você. Nós temos Dian Cecht como médico."
"Perguntou-me," ele disse. "Eu sou um copeiro."
"Nós não precisamos de você. Nós já possuímos copeiros: Delt e Drucht e Daithe, Tae e Talom e Trog, Gle e Glan e Glesse."
Ele disse, "Perguntou-me: Eu sou um bom braseiro."
"Nós não precisamos de você. Nós já possuímos um braseiro, Credne Cerd."
Ele disse, "Pergunte ao rei se ele possui um homem que possua todas essas artes: se ele possuir eu não estarei apto para entrar em Tara."
Então o porteiro foi para o salão real e contou tudo ao rei. "Um guerreiro chegou em frente ao palácio," ele disse, "chamado Samildanach; e todas as artes que ajudam seu povo, ele as pratica todas, de forma que ele é o homem com cada uma e toda arte."
Então ele disse que eles lhe trouxessem os tabuleiros de fidchell de Tara,
e ele venceu todas as apostas, e fez a cro de Lug. (Mas se fidchell foi inventado no período da guerra de Tróia, ele ainda não tinha chegado à Irlanda, pois a batalha de Mag Tuired e a destruição de Tróia ocorrem ao mesmo tempo.)
Então isso foi relatado a Nuadu. "Deixe-o entrar no palácio," Disse Nuadu, "Já que um homem assim nunca veio a esta fortaleza."
Então o porteiro deixou-o passar, e ele entrou na fortaleza, ele sentou-se no lugar do sábio, porque ele era um sábio em cada arte.
Então Ogma atirou o ladrilho, o qual precisava de oitenta juntas de bois para ser movido, pelo lado do salão de forma que o projetou para fora de Tara. Isto era para desafiar Lug, que arremessou a pedra de volta de forma que a projetou de volta para o centro do salão real; e ele jogou a peça que se arrastou novamente pelo lado do salão real de modo que este estava inteiro novamente.
"Conceda que uma harpa seja tocada para nós", disseram os anfitriões. Então o guerreiro tocou uma doce musica para os anfitriões na primeira noite, colocando-os para dormir desde aquele hora até a mesma hora do dia seguinte. Ele tocou uma música triste de forma que eles choraram e lamentaram. Ele tocou uma música alegre de forma que eles sorriram e se regozijaram.
Então Nuadu, quando viu os muitos poderes do guerreiro, considerou se ele poderia libertá-los da escravidão que eles sofriam nas mãos dos Fomorianos. Assim eles realizaram um conselho a respeito do guerreiro, e a decisão a que Nuadu chegou foi a de trocar de assento com o guerreiro. Assim Samildanach sentou na cadeira real, e o rei acordou antes dele até que treze dias tivesse passado.
No dia seguinte ele e seus dois irmãos, Dagda e Ogma, conversaram juntos em Grellach Dollaid; e seus dois parentes Goibniu e Dian Cecht estavam reunidos com eles.
Eles passaram um ano inteiro nessa conferência secreta, de forma que Grellach Dollaid é chamada Amrun dos Homens da Deusa.
Então os druidas da Irlanda se reuniram a eles, juntamente com seus médicos e seus cocheiros e seus ferreiros e seus ricos proprietários de terras e seus juristas. Eles conversaram juntos secretamente.
Então ele perguntou ao feiticeiro, cujo nome era Mathgen, que poder ele detinha. Ele respondeu que poderia sacudir as montanhas da Irlanda debaixo dos Fomorianos até que seus picos desmoronassem. E isso lhes pareceria como se as doze principais montanhas da Irlanda estivessem lutando em favor dos Tuatha De Danann: Slieve League, e Denda Ulad, e as Montanhas Mourne, e Bri Erigi e Slieve Bloom e Slieve Snaght, Slemish e Blaisliab e a Montanha Nephin e Sliab Maccu Belgodon e as Colinas Curlieu e Croagh Patrick.
Então ele perguntou copeiro que poder ele detinha. Ele respondeu que poderia servir os doze principais lagos da Irlanda na presença dos Fomorianos e eles não mais encontrariam água neles, mas sedentos ficariam. Estes eram os lagos: Lough Derg, Lough Luimnig, Lough Corrib, Lough Ree, Lough Mask, Strangford Lough, Belfast Lough, Lough Neagh, Lough Foyle, Lough Gara, Loughrea, Marloch. Eles procedem dos doze principais rios da Irlanda – o Bush, o Boyne, o Bann, o Blackwater, o Lee, o Shannon, o Moy, o Sligo, o Erne, o Finn, o Liffey, o Suir – e eles seriam ocultados dos Fomorianos de modo que eles não encontrariam uma gota neles. Mas bebida ele poderia providenciar para os homens da Irlanda mesmo se eles ficassem em batalha por sete anos.
Então Figol mac Mamois, druida deles, disse, "Três chuvas de fogo cairão nas faces das hostes dos Fomorianos, e eu capturarei dois terços de sua coragem e de sua destreza nas armas e de sua força, e eu prenderei a urina deles em seus próprios corpos e nos corpos de seus cavalos. Cada respiração que os homens da Irlanda exalarem aumentará sua coragem e sua destreza nas armas e sua força. Mesmo se eles ficarem em batalha por sete anos, eles não se cansarão de maneira nenhuma.”
O Dagda disse, "Os poderes que vocês possuem, utilizarei todos com destreza."
"Você é o Dagda ['o Bom Deus']!" disseram todos, e "Dagda" ele foi chamado desde então.
Então eles dispensaram o conselho para reunirem-se, desde esse dia, três anos depois.
Então depois que a preparação para a batalha foi terminada, Lug e o Dagda e Ogma foram os três deuses de Danu, e eles concederam a Lug equipamentos para a batalha; e por sete anos eles se prepararam e forjaram suas armas.
Então ela disse-lhe, "Tome para si a batalha que causará a queda de um reino." Morrigan disse para Lug,
"Acorde..."
Então Figol mac Mamois, o druida, profetizou a batalha e fortaleceu os Tuatha De, dizendo: "A batalha ocorrerá.”
Então o Dagda possuía uma casa em Glen Edin no norte, e ele a arrumou para encontrar uma mulher em Glen Edin em ano desde aquele dia, próximo de Todos os Santos da batalha. O Unshin de Connacht rugia na direção sul.
Ele viu a mulher no Unshin em Corann, se banhando, com um de seus pés em Allod Echae (isto é, Aghanagh) sul da água e o outro em Lisconny norte da água. Haviam nove cachos desprendidos em sua cabeça. O Dagda falou com ela, e eles se uniram. "A Cama do Casal" foi o nome desse lugar dai por diante. (a mulher mencionada aqui era Morrigan.)
Então ela disse ao Dagda que os Fomorianos desembarcariam em Mag Ceidne, e que ele deveria reunir os aes dana da Irlanda para encontrá-la no Vau de Unshin, e ela iria para dentro de Scetne para destruir Indech mac De Domnann, o rei dos Fomorianos, e lhe tiraria o sangue do coração e a disposição de sua coragem. Mais tarde ela deu dois punhados desse sangue para as hostes que estavam esperando no Vau de Unshin. Seu nome se tornou "O Vau da Destruição" por causa da destruição do rei.
Assim os aes dana fizeram, e eles cantaram feitiços contra as hostes dos Fomorianos.
Isso foi uma semana antes de Todos os Santos, e todos eles se dispersaram até que todos os homens da Irlanda tivessem se reunido no dia anterior ao de Todos os Santos. Seu número era de seis vezes trinta centenas, isto é, cada terço consistia de duas vezes trinta centenas.
Então Lug mandou o Dagda para espiar os Fomorianos e para atrasa-los até que os homens da Irlanda chegassem para a batalha.
Então o Dagda foi para o acampamento dos Fomorianos e propôs-lhes uma trégua na batalha. Isso lhe foi concedido conforme eles propôs. Os Fomorianos lhe fizeram mingau para zombar dele, pois seu gosto por mingau era notável. Eles encheram para ele o caldeirão do rei, que tinha cinco palmos de profundidade, e derramaram quatro galões de leite novo e a mesma quantidade de farinha e gordura nele. E colocaram bodes e ovelha e porco nele, e os ferveram todos junto com o mingau. Então eles derramaram isso em um buraco no chão, e Indech disse-lhe que ele seria morto a menos que comesse tudo aquilo; ele deveria fartar-se de comer de forma que sua força não fosse satirizada pelos Fomorianos.
Então o Dagda pegou sua concha, e ela era grande o bastante para que um homem e uma mulher repousassem em seu meio. Esses eram os pedaços que estavam nela: metade de um porco salgado e um quarto da banha de porco.
Então o Dagda disse, "Esta comida é boa se seu caldo é igual a seu gosto." Mas enquanto colocava a colher cheia na boa ele disse, "'Seus pobres pedaços não a estragam,' dizem os velhos homens sábios."
Então ao fim ele limpou todo o buraco tocando até o fundo entre bolor e cascalho. Ele adormeceu logo depois de comer seu mingau. Sua barriga estava tão grande quanto um caldeirão, e os Fomorianos riram-se dela.
Então ele foi embora para Traigh Eabha. E não foi fácil para o guerreiro se mover adiante levanto em conta o tamanho de sua barriga. Sua aparência estava horrivel: ele tinha um promontório no vazio entre seus cotovelos, e uma túnica cinza amarronzada ao redor dele até o inchaço de seu traseiro. E ele arrastava atrás de si uma forquilha que necessitava do trabalho de oito homens para se mover, e essa trilha era o bastante para ser uma trincheira da fronteira de uma província. E foi chamada "A trilha da clava de Dagda" por essa razão. Seu longo pênis estava descoberto. Ele vestia dois sapatos de pele de cavalo com o pêlo para fora.
À medida que ele continuava ele viu uma garota a sua frente, uma bonita jovem com uma excelente forma, seu cabelo em belos cachos. O Dagda a desejou, mas ele estava impotente por causa de sua barriga. A garota começou a zombar dele, então ela começo a lutar com ele. Ela arremessou-o de forma que ele afundou o côncavo de seu traseiro no chão. Ele olhou para ela irritado e perguntou, "O que você quer, garota, tirando-me fora de meu caminho?”.
"Isto: conseguir que você me carregue nas costas à casa de meu pai."
"Quem é seu pai?" ele perguntou.
"Eu sou filha de Indech, filho de De Domnann," ela disse.
Ela atacou de novo e bateu nele severamente, de forma que a fenda em volta dele ficou cheia com o excremento de sua barriga; e ela zombou dele três vezes até que ele a carrega-se em suas costas.
Ele disse que isso era um ges para ele, que carregaria qualquer um que o chamasse por seu nome.
"Qual é seu nome?" ela perguntou.
"Fer Benn," ele disse.
"Até o nome é demasiado!" ela disse. "Levante, carregue-me em suas costas, Fer Benn."
"Este não é realmente meu nome," ele disse.
"Qual é?" ela perguntou.
"Fer Benn Mach," ele respondeu.
"Levante, carregue-me em suas costas, Fer Benn Mach," ela disse.
"Este não é realmente meu nome," ele disse.
"Qual é?" ela perguntou. Então ele disse-lhe seu nome completo. Ela respondeu imediatamente e disse, "Levante, carregue-me em suas costas, Fer Benn Bruach Brogaill Broumide Cerbad Caic Rolaig Builc Labair Cerrce Di Brig Oldathair Boith Athgen mBethai Brightere Tri Carboid Roth Rimaire Riog Scotbe Obthe Olaithbe. . . . Levante, carregue-me para fora daqui!"
"Não ridicularize-me mais, garota." ele disse.
"Isso certamente sera difícil," ela disse.
Então ele moveu-se para fora do buraco, depois que deixara lá o conteúdo de sua barriga, e por causa disso a garota havia esperado por um longo tempo. Ele levantou então, e colocou a garota em suas costas; e ele colocou três pedras em seu cinto. Cada pedra pendeu e caiu - e foi dito que eram seus testículos que caíram. A garota saltou e o golpeou nas nádegas, e seus pêlos pubianos estavam a mostra. Então o Dagda conquistou uma amante, e eles fizeram amor. Uma marca ficou em Beltraw Strand onde eles se uniram.
Então a garota disse a ele, "Você não vai para a batalha por meio algum."
"Certamente eu irei," disse o Dagda.
"Você não irá," disse a mulher, "porque eu serei uma pedra na boca de cada vau que você cruzar."
"Assim será deveras," disse o Dagda, "mas você não me impedirá desa forma. Eu pisarei pesadamente em cada pedra, e as pegadas de meu calcanhar ficarão em cada pedra para sempre."
" Assim será deveras, mas elas trocarão de lugar de forma que você não as verá. Você não me deixará para trás ate que eu reúna os filhos de Tethra dos montes de sid, porque eu serei um carvalho gigante em cada vau e em cada passagem que você cruzar."
"Eu deveras passarei," disse o Dagda, "e a marca de meu machado permanecerá em cada carvalho para sempre." (E as pessoas serão observadas sob a marca do machado de Dagda.)
Então, no entanto, ela disse, "Permita que os Fomorianos entrem no reino, porque os homens da Irlanda terão todos se reunido em um lugar." Ela disse que atrasaria os Fomorianos, e ela cantaria feitiços contra eles, e ela praticaria a arte mortal da varinha mágica contra eles – e ela sozinha enfrentaria um nono de suas hostes.
Os Fomorianos avançaram até que sua décima parte estivesse em Scetne. Os homens da Irlanda estavam em Mag Aurfolaig. Neste ponto estas duas hostes estavam ameaçando batalhar.
"Os homens da Irlanda tomaram para si nos dar batalha?" disse Bres mac Elathan a Indech mac De Domnann.
"Eu também a darei," disse Indech, "de forma que seus ossos ficarão em pedaços se não pagarem seu tributo."
Para proteger-lhe, os homens da Irlanda haviam combinado poupar Lug da batalha. Seus nove pais adotivos foram proteger-lhe: Tollusdam e Echdam e Eru, Rechtaid Finn e Fosad e Feidlimid, Ibar e Scibar e Minn. Eles temiam que o guerreiro moresse cedo por causa do grande número de artes que dominava. Por essa razão eles não lhe permitiram ir à batalha.
Então os homens de posto entre os Tuatha De estavam reunidos em torno de Lug. Ele perguntou a seu ferreiro, Goibniu, que poder ele detinha em favor deles.
"Não é difícil dizer," ele disse. "Mesmo se os homens da Irlanda continuarem a batalha por sete anos, para cada lança separada de seu cabo ou espada que quebrar em batalha, eu providenciarei uma nova arma em seu lugar. A ponta de lança forjada por minhas mãos não fará um arremesso perdido. Nenhuma pele por ela tocada sentirá a vida outra vez.. Dolb, o ferreiro Fomoriano, não pode fazer isso. Eu agora estou preocupado com minha preparação para a batalha de Mag Tuired."
"E você, Dian Cecht," disse Lug, "que poder você detém?"
"Não é difícil dizer," ele disse. "Qualquer homem ferido ali, a menos que sua cabeça seja cortada, ou a membrana de seu cérebo ou sua coluna vertebral forem separadas, eu o colocarei sem falhas na batalha no dia seguinte."
"E você, Credne," Lug disse a seu brazeiro, "qual é o seu poder na batalha?"
"Não é difícil responder," disse Credne. "Eu os suprirei todos com pontas para suas lanças e punhos para suas espadas e enfeites e bordas para seus escudos."
"E você, Luchta," Lug disse para o seu carpinteiro, "qual poder você detem na batalha?"
"Não é difícil responder," disse Luchta. "Eu os suprirei todos com quanto escudos e cabos de lanças precisarem."
"E você, Ogma," disse Lug para seu campeão, "Qual é o seu poder na batalha?"
"Não é difícil dizer," ele disse. "Serei um adversário páreo para o rei e segurarei eu próprio de seus amigos, até que vencerei um terço da batalha para os homens da Irlanda."
"E você, Morrigan," disse Lug, "Que poder?"
"Não é difícil dizer," ela disse. "Eu ficarei firme; eu perseguirei quem estiver vigiando; eu serei capaz de matar; eu serei capaz de destruir aqueles que forem subjugados."
"E vocês, feiticeiros," disse Lug, "Que poder?"
"Não é difícil dizer," disseram os feiticeiros. "Suas brancas solas dos pés serão visíveis depois que nós os tivermos derrubados com nossas artes, de forma que eles serão facilmente mortos; e nós tiraremos dois terços das forças deles, e os impediremos de urinar."
"E vocês, copeiros," disse Lug, "Que poder?"
"Não é difícil dizer” disseram os copeiros. "Nós colocaremos uma grande sede sobre eles, e eles não encontrarão bebidas para matá-la."
"E vocês, druidas," disse Lug, "Que poder?"
"Não é difícil dizer," disseram os druidas. "Nós mandaremos chuvas de fogo sob as faces dos Fomorianos de forma que eles não poderão esguer os olhos, e os guerreiros em luta com eles poderão usar sua força para matá-los."
"E você, Coirpre mac Etaine," disse Lug ao seu bardo, "o que pode fazer na batalha?"
"Não é difícil dizer," disse Coirpre. "Eu farei um glam dicenn contra eles, e eu os satirizarei e os envergonharei de forma que através do encanto de minha arte eles não oferecerão resistência pra os guerreiros."
"E vocês, Be Chuille e Dianann," disse Lug às suas duas feiticeiras, "o que podem fazer na batalha?"
"Não é difícil dizer," elas disseram. "Nós encantaremos as árvores e as pedras e a grama da terra de forma que elas sejam uma hoste armada contra eles; e eles se dispersarão em fuga, apavorados e tremendo."
"E você, Dagda," disse Lug, "que poder você pode exercer contra as hostes Fomorianas na batalha?"
"Não é difícil dizer," disse o Dagda. "Eu lutarei pelos homens da Irlanda mutuamente golpeando e destruindo e com feitiços. Os ossos deles sob minha clava em breve serão como muitas pedras de granizo sob os pés de um rebanho de cavalos, aqui o dobro de inimigos encontraram no campo de batalha de Mag Tuired."
Então dessa forma Lug se dirigia a cada um deles um após o outro perguntando por suas artes, fortalhecendo-lhes e digirigindo-se a eles do mesmo modo até que cada homem possuise a coragem de um rei ou um grande senhor.
Ora, diariamente a batalha estava empatada entre os Fomorianos e os Tuatha De Danann, mas não haviam reis ou príncipes lutando, apenas homens bárbaros e arrogantes.
Uma coisa se tornou evidente para os Fomorianos na batalha parecendo fora do comum para eles. Suas armas, suas lanças e suas espadas, estavam embotadas; e aqueles dentre seus homens que morriam não voltavam no dia seguinte. Esse não era o caso com os Tuatha De Danann: embora suas armas estivessem embotadas um dia, elas estavam restauradas no próximo porque Goibniu, o ferreiro, estava em sua forja fabricando espadas e lanças e dardos. Ele fazia aquelas armas com três pancadas. Então Luchta, o carpinteiro, fazia os cabos das lanças em três lascadas, e a terceira lascada era o acabamento e a colocava fixa no encaixe da lança. As pontas de lanças estavam no lado da forja onde ele jogaria os encaixes com as setas, e não era necessário encaixá-los outra vez. Então Credne o brazeiro fazia os cravos com três pancadas e jogava os encaixes de lanças neles, e não era necessário perfurar orifícios para eles; e desta forma ficaram juntos.
Ora, essa era a forma que usavam para despertar os guerreiros que se feriram ali de forma que eles estivesem mais exaltados no dia seguinte: Dian Cecht, seus dois filhos Octriuil and Miach, e sua filha Airmed cantavam feitiços acima do poço chamado Slaine. Eles colocavam seus homens mortalmente feridos ali enquanto eles estavam abatidos; e eles estavam vivos quando vinha à tona. Seus homens mortalmente feridos ficavam curados pelo poder do encantamento feito pelos quarto médicos que estavam em volta do poço.
Ora, isto causava perdas para os Fomorianos, e eles escolheram um homem para inspecionar a batalha e as práticas dos Tuatha De - Ruadan, o filho de Bres e de Brig, a filha do Dagda – porque ele era filho e neto dos Tuatha De. Então ele descrevia aos Fomorianos o trabalho do ferreiro e do carpinteiro e do brazeiro e dos quatro médicos que estavam por perto. Eles mandaram-lhe de volta para matar um dos aes dana, Goibniu. Ele pediu uma ponta de lança para ele, cravos para o brazeiro, e um cabo de lança para o carpinteiro; e tudo lhe foi dado como ele havia pedido. Ora, havia ali uma mulher que afiava armas, Cron a mãe de Fianlach; e ela afiou a lança de Ruadan. Assim a lança foi dada a Ruadan por seus parentes por parte de mãe, e por essa razão ela foi chamada "a lança dos parentes por parte de mãe" na Irlanda.
Mas depois que a lança lhe foi dada, Ruadan voltou e feriu Goibniu. Ele tirou fora a lança e atirou-a em Ruadan de forma que ela atravessou-lhe; e ele morreu na presença de seu pai na assembléia Fomoriana. Brig chegou e chorou por seu filho. A principio ela gritou, e no fim das contas ela lamentou. Então pela primeira vez lamentos e gritos foram ouvidos na Irlanda. (Ora, ela é a Brig que inventou um assobio para sinalizar a noite.)
Então Goibniu foi para o poço e voltou curado. Os Fomorianos possuiam um guerreiro chamado Ochtriallach, o filho do rei dos Fomorianos, Indech mac De Domnann. Ele sugeriu que cada homem sozinho que eles possuisem deveria trazer uma pedra das pedras do rio Drowes para jogar no poço Slaine em Achad Abla a oeste de Mag Tuired, a leste de Lough Arrow. Eles foram, e cada homem colocou uma pedra no poço. Por essa razão o monte de pedras é chamado Ochtriallach. Mas outro nome para este poço é Loch Luibe, porque Dian Cecht colocou nele cada herva que crescesse na Irlanda.
Ora, quando chegou a hora da grande batalha, os Fomorianos marcharam para fora de seu acampamento e se colocaram em formações de fortes e indestrutíveis batalhões. Não havia um chefe, nenhum guerreiro hábil entre eles sem uma armadura contra sua pele, a um capacete na cabeça, um comprida lança em sua mão direita, uma pesada e afiada espada em seu cinto, um forte escudo sobre seu ombro. Com o intuito de atacar as hostes dos Fomorianos até que o dia estivesse "batendo a cabeça contra a pedra," estivesse "a mão no ninho da serpente," estivesse "a face próxima ao fogo."
Estes eram os reis e os líderes que encorajavam as hostes Fomorianas: Balor filho de Dot filho de Net, Bres mac Elathan, Tuire Tortbuillech mac Lobois, Goll e Irgoll, Loscennlomm mac Lommgluinigh, Indech mac De Domnann, rei dos Fomorianos, Ochtriallach mac Indich, Omna e Bagna, Elatha mac Delbaith.
No outro lado, os Tuatha De Danann levantaram e deixaram seus nove companheiros guardando Lug, e foram se unir a batalha. Mas quando a batalha sucedeu, Lug escapou da guarda nomeada sobre ele, como um combatente de carro de guerra, e assim foi ele que estava em frente aos batalhões dos Tuatha De. Então uma afiada e cruel batalha foi disputada entre a raça dos Fomorianos e os homens da Irlanda.
Lug encorajava os homens da Irlanda a lutar e batalhar ferozmente assim eles não ficariam em cativeiro nem mais um minuto, porque seria melhor para eles encontrar a morte enquanto defendiam sua terra natal do que em cativeiro e sob impostos como eles estavam. Então Lug cantou um feitiço, mudando de um lugar para o outro os homens da Irlanda em um pé só e com um olho fechado.
As hostes deram um grande grito a medida que iam para a batalha. Então elas se encontraram, e cada uma delas começou a golpear a outra.
Muitos belos homens cairam ali nas tendas da morte. Grande era o massacre e o grande embuste que aconteceu ali. Orgulho e vergonha ali estavam lado a lado. Havia raiva e indignação. Abundante era o rio de sangue sobre a pele clara de jovens guerreiros mutilados pelas mãos de homens destemidos enquanto corriam do perigo da desonra. Pungente foi o barulho feito pela multidão de guerreiros e campeões protegendo suas espadas e escudos e corpos enquanto outros os golpeavam com lanças e espadas. Pungente também o tumulto em todo lugar no campo de batalha, a gritaria dos guerreiros e o confrontar de brilhantes escudos, o tilintar de espadas e punhos de espadas de marfim, o ruído e chacoalhar das aljavas, o sussurar e zunir das lanças e dardos, as pancadas estraçalhando as armas.
À medida que eles cortavam as pontas dos dedos uns dos outros e seus pés se encontravam; e por causa do sangue escorregadio abaixo de seus pés, eles continuavam tombando, e suas cabeças eram cortadas fora enquanto eles se chocavam. Uma sangrenta, feridora, trapaceira, sangüinária batalha estava começada, e os bastões de lanças estavam avermelhados nas mõas de inimigos.
Então Nuadu Mão-de-Prata e Macha a filha de Ernmas cairam pelas mãos de Balor neto de Net. Casmael caiu pelas mãos de Ochtriallach filho de Indech. Lug e Balor do olho perfurante se encontraram na batalha. O segundo possuia um olho destrutivo que nunca abria exceto no campo de batalha. Quatro homens levantavam a pálpebra do olho com uma polida argola em sua pálpebra. A hoste que olhava no olho, mesmo se fossem milhares em número, não ofereciam resistência para os guerreiros. Ele possuia um poder venenoso por essa razão: uma vez seu pai druida estava misturando uma mágia. Ele chegou e olhou pela janela, e a fumaça da mistura afetou o olho e o poder venenoso da mistura ficou nele. Então ele e Lug se encontraram.
"Eleve minha pálpebra, jovem," disse Balor, "então poderei ver o companheiro tagarela com quem converso."
A pálpebra estava saliente no olho de Balor. Então Lug arremessou uma pedra numa funda que levou o olho através de sua cabeça, e ele passou a olhar para sua própria tropa. Ele atacou no topo da hoste Fomoriana de forma que vinte e sete deles morreram ao seus lado; e a coroa de sua cabeça bateu contra o peito de Indech mac De Domnann so de forma que um jorro de sangue irrompeu de seus lábios.
"Deixe que Loch Lethglas ["Meio-Verde"], meu bardo, esteja comigo," disse Indech. (Ele era meio-verde desde o chão até a coroa de sua cabeça.) Ele veio a ele. "Descubra para mim," disse Indech, "quem fez esse arremesso contra mim.".
Então Lug disse essas palavras em resposta a ele, "O homem que arremessou não tem medo de você”.
Então Morrigan a filha de Ernmas chegou, e ela estava fortalecendo os Tuatha De para batalhar resoluta e ferozmente.
Imediatamente depois a batalha se interrompeu, e os Fomorianos se dirigiram para o mar. O campeão Ogma filho de Elatha e Indech mac De Domnann cairam em um combate único.
Loch Lethglas implorou misericórdia a Lug. "Conceda meus três pedidos," disse Lug.
"Você os terá," disse Loch. "Eu removerei a necessidade de guarder a Irlanda dos Fomorianos para sempre; e qualquer julgamento de sua língua será ouvido em qualquer caso dificil, e este resolverá o negócio até o fim da vida."
Assim Loch foi poupado. Então ele cantou "O Decreto de fixação" aos Celtas. Então Loch disse que daria autoridade para Lug sob nove carros porque ele era misericordioso. Então Lug disse que precisaria dos nomes delas. Loch respondeu e disse, "Luachta, Anagat, Achad, Feochair, Fer, Golla, Fosad, Craeb, Carpat."
"Uma pergunta então: quais os nomes dos cocheiros que estão nelas?"
"Medol, Medon, Moth, Mothach, Foimtinne, Tenda, Tres, Morb."
"Quais são os nomes dos aguilhões que estão em suas mãos?"
"Fes, Res, Roches, Anagar, Each, Canna, Riadha, Buaid."
"Quais são os nomes dos cavalos?"
"Can, Doriadha, Romuir, Laisad, Fer Forsaid, Sroban, Airchedal, Ruagar, Ilann, Allriadha, Rocedal."
"Uma pergunta: qual é o número de mortos?" Lug disse a Loch.
"Eu não sei o número de camponeses e da multidão. Mas o número de lordes Fomorianos e nobres e campeões e grandes reis, eu sei: 3 + 3 x 20 + 50 x 100 homens + 20 x 100 + 3 x 50 + 9 x 5 + 4 x 20 x 1000 + 8 + 8 x 20 + 7 + 4 x 20 + 6 + 4 x 20 + 5 + 8 x 20 + 2 + 40, incluindo o neto de Net com 90 homens. Este é o número dos mortos dos grandes reis Fomorianos e de altos nobres que caira na batalha.
"Mas com respeito ao número de camponeses e pessoas comnus e da multidão e pessoas de todas as artes que chegarm na companhia das hostes – cada guerreiro e cada alto nobre e cada grande rei dos Fomorianos vieram a batalha com seus seguidores pessoais, de forma que todos caíram aqui, juntos seus homens livres e seus servos escravos – eu levo em conta apenas um pouco dos servos dos grandes reis. Este portanto é o número de quantos eu contei enquanto os via: 7 + 7 x 20 x 20 x 100 x 100 + 90 incluindo Sab Uanchennach filho de Coirpre Colc, o filho de um servo de Indech mac De Domnann (isto é, o filho de um servo do Rei dos Fomorianos).
"Quanto aos homens que lutaram em pares e os lanceiros, guerreiros que não chegam ao coração da batalha que também cairam aqui – até as estrelas do céu podem ser contadas, e as areias da praia, e os flocos de neve, e as gotas de orvalho na planície, e as pedras de granizo, e a grama sob os pés dos cavalos, e as ondas de Manannan filho Lir no mar tempestuoso – eles não podem ser contados de maneira alguma."
Imediatamente depois eles encontraram uma oportunidade para matar Bres mac Elathan. Ele disse, "É melhor me poupar do que me matar."
"O que então se sucederia disso?" disse Lug.
"As vacas da Irlanda sempre darão leite," disse Bres, "se eu for poupado."
"Eu direi isso a nossos homens sábios," disse Lug.
Então Lug foi ter com Maeltne Morbrethach e disse a ele, "Se Bres for poupado como dádiva as vacas da Irlanda para sempre darão leite?"
"Ele não deve ser poupado," disse Maeltne. "Ele não tem poder sobre a geração das vacas e sua cria, mesmo se ele controlar seu leite enquanto elas estiverem vivas."
Lug disse a Bres, "Isso não o salvará; você não tem poder sobre a geração das vacas ou sua cria, mesmo que você controle seu leite."
Bres disse, "Maeltne tem dado alarmes amargos!"
"Há mais alguma coisa que pode salva-lo, Bres?" disse Lug.
"Existe deveras. Diga a seu jurista que eles conseguirão uma colheita a cada quarto em recompensa por me pouparem."
Lug disse a Maeltne, "Bres será poupado por dar aos homens da Irlanda uma colheita de grão todos os quartos?"
"A isso nos temos adaptado," said Maeltne. "primavera para arar a terra e semear, e o começo do verão para amadurecer a dureza do rão, e o começo do outono para o completo amadurecimento do grão, e para colhe-lo. O inverno para consumi-lo."
"Isto não salvará você," disse Lug a Bres.
"Maeltne tem dado alarmes amargos," disse he.
"Menos poderá salva-lo," disse Lug.
"O que?" perguntou Bres.
"De que forma os homens da Irlanda ararão a terra? De que forma semearão? De que forma colherão? Se você tornar públicas essas coisas, você será salvo."
"Diga a eles, na terça-feira ararão a terra; na terça-feira semearão no campo; e na terça-feira colherão."
Assim através desse artifício Bres foi salvo.
Ora, na batalha Ogma o campeão encontrou Orna, a espada de Tethra, rei dos Fomorianos. Ogma desembainhou a espada e a limpou. Então a espada contou porque havia se comportado desse modo, porque este era um hábito das espadas nessa época para contar suas façanhas quando estavam desembainhadas. E por esta razão as espadas tinham direito a dádiva de serem limpas quando eram desembainhadas. Além disso feitiços eram colocados em espadas naquele tempo. Ora a razão pela qual demônios costumavam falar de armas era que as armas eram louvadas pelos homens e eram motivo de confiança naquele tempo.
Então Lug e o Dagda e Ogma perseguiram os Fomorianos, porque eles haviam pegado a harpa de Dagda, Uaithne. Finalmente eles alcançaram o salão de banquete onde Bres mac Elathan e Elatha mac Delbaith estavam. A harpa estava na parede. Esta era a harpa que o Dagda havia impedido de tocar melodias de forma que eles não fizeram som até que ele a chamou, dizendo:

"Venha Daur Da Blao,
Venha Coir Cetharchair,
Venha verão, venha inverno,
Bocas de harpas e foles e gaitas!"

(Ora, aquela harpa tinha dois nomes, Daur Da Blao e Coir Cetharchair.)

Então a harpa veio para, e ela matou nove homens e voltou ao Dagda; e ele tocou para eles as três coisas pelas quais a harpa era conhecida: música calma, música alegre, e música triste. Ele tocou uma música triste para eles de modo que suas mulheres, chorosas, verteram lágrimas. Ele tocou uma música alegre para eles de forma que suas mulheres e rapazes riram. Ele tocou uma música calma para eles de forma que as hostes dormiram. Então os três escaparam deles ilesos – embora tivessem procurado matá-los.
O Dagda trouxe com ele o gado pego pelos Fomorianos através do mugido da novilha que lhe foi dada por seu trabalho; porque quando ela chamava por seu filhote, o gado da Irlanda que os Fomorianos haviam pego como seu tributo começava a pastorear.
Então depois que a batalha estava ganha e o massacre havia sido limpado, a Morrigan, a filha de Ernmas, prosseguiu para anunciar a batalha e a grande vitória que havia ocorrido ali para os níveis reais da Irlanda e para suas hostes do Sid, e para as importantes águas e suas nascentes dos rios. E por tal razão Badb ainda relata grandes feitos. "Alguma notícia" todos então perguntaram à ela.

"Paz até o Céu.
Céu realista.
Terra abaixo do Céu,
Força em cada um,
Uma taça muito cheia,
Cheia de mel;
Hidromel em abundância.
Verão no inverno. . . .
Paz até o Céu . . ."

Ela também, profetizou o fim do mundo, prevendo cada mal que ocorrerá então, e cada doença e cada vingança; e ela cantou o seguinte poema:

"Eu não posso ver um mundo
que seja caro para mim:
Verão sem flores,
Gado sem leite,
Mulheres sem modéstia,
Homens sem coragem.
Conquistas sem um rei.
Florestas sem mastros.
Mar sem produção.
Falsos julgamentos de homens velhos.
Falsos precedentes de advogados,
Cada homem um traidor.
Cada filho um recuperador.
O filho irá para a cama do pai,
O pai irá para a cama do filho.
Cada irmão é um cunhado.
Ele não procurara mulher fora de casa.
Um tempo perverso,
O filho enganará o pai,
A filha enganará a mãe."


Lenda Celta
(Trad. brasileira)


Notas: Fidchell é uma espécie de xadrez jogado na Irlanda.
As palavras cro, aes dana e ges encontram-se nessa forma no original e em itálico, não tendo tradução.